Presidente da Fenae declara que desde 12 de janeiro de 1861, quando foi fundado, o banco tem servido à população brasileira. Segundo ele, a passagem dos 160 anos, completados nesta terça-feira (12), deve ser marcada por ações de resistência, diante de um cenário de ataques impostos à instituição pelo governo privatista de Bolsonaro
Em meio ao maior desmonte de sua história, a Caixa Econômica Federal completa 160 anos nesta terça-feira, dia 12 de janeiro, com um passado de histórias brilhantes e o futuro sob ameaça. Mesmo diante desse cenário nada positivo, o aniversário do banco mais estratégico do Brasil, que atua como o principal agente das políticas públicas do Estado, é motivo de orgulho para os seus empregados e para o povo brasileiro.
A data, porém, é para resistência contra as tentativas governamentais de privatizar partes rentáveis da instituição, através da venda de suas subsidiárias. Essas áreas, a exemplo das loterias, seguros e cartões de crédito, sustentam os programas sociais operados pelo banco.
Nesta entrevista ao portal da Fenae, Sergio Takemoto esclarece que, no âmbito da sociedade e do movimento dos trabalhadores, os últimos anos têm sido de muita luta e resistência para manter a Caixa 100% pública. O dirigente questiona ainda as mais recentes tentativas de privatização do banco e os impactos dessa política para a população. Confira a entrevista:
Fenae – A Caixa Econômica Federal completa 160 anos em 12 de janeiro de 2021. O que o banco, que é 100% público, representa para o Brasil?
Takemoto – Desde sua fundação, em 12 de janeiro de 1861, a Caixa Econômica Federal tem servido à população brasileira. Portanto, ao longo de todos esses anos, o banco venceu desafios, escreveu o seu próprio destino e projetou o seu futuro. Em 160 anos, a Caixa resistiu às turbulências provocadas por mudanças de regimes políticos, manteve-se 100% pública e aperfeiçoou seu papel de banco social, a serviço do desenvolvimento do país e da melhoria das condições de vida de cada brasileiro.
A trajetória de banco público profundamente vinculado às necessidades da população, com atuação voltada para os segmentos de baixa renda, está alicerçada no esforço, na inteligência e na generosidade das sucessivas gerações de empregados e empregadas que se dedicaram e se dedicam à construção e à defesa da empresa. Dar consequência às políticas públicas indutoras da inclusão e da cidadania tornou-se elemento integrado ao DNA do bancário da Caixa.
A Caixa garante as políticas públicas que atendem a população mais vulnerável do país. A crise do coronavírus mostrou que, se não fosse o banco público, ficaria inviável o pagamento do auxílio emergencial e de todos os outros programas sociais. Um contingente de 120 milhões de brasileiros foi atendido praticamente em tempo recorde. A lição aprendida dessa mobilização é a de que o Brasil precisa de um banco público forte, sólido e competitivo, capaz de dar conta tanto da concorrência privada quanto de suas responsabilidades sociais.
Todo o cidadão brasileiro encontra muito da Caixa em sua própria vida, no cotidiano de sua comunidade e na história do país. Infelizmente, porém, o atual governo brasileiro responde a esse vital papel estratégico do banco com mais do mesmo. A equação é uma velha conhecida e repete o terror difundido nos anos 1990, durante o governo do PSDB de Fernando Henrique Cardoso: enxuga-se a quantidade de empregados, a empresa fica sucateada e pavimenta-se, assim, o caminho da privatização.
A importância social e histórica da Caixa precisa ser compreendida em suas várias dimensões: econômica, ambiental, política, social, cultural, alimentar e civilizatória. Uma nova etapa de propósito surge no horizonte da mobilização para assegurar que o banco se mantenha como empresa pública. A preocupação com o futuro vincula-se a toda uma articulação para que a Caixa permaneça em sintonia com o ritmo do desenvolvimento sustentável e com as diversas demandas que emergem dos movimentos sociais ao redor do país.
A Fenae e as Apcefs parabenizam a Caixa e a todos os seus empregados por mais essa data histórica. O tempo não para. Que venham outros 160 anos, tendo claro que a resposta contra as ideias da força passa pela força das ideias, conforme ensina a Sociologia crítica no Brasil.
Fenae – O que os empregados podem fazer para resistir à tragédia anunciada de privatização de partes rentáveis e estratégicas da Caixa?
Takemoto – Os empregados do banco têm feito muito em prol da sociedade e do país, viabilizando o pagamento do auxílio emergencial para mais de 100 milhões de brasileiros. Os empregados atenderam, sozinhos, mais da metade da população brasileira. Não fosse a Caixa durante o pagamento do benefício, milhões de famílias não conseguiriam sobreviver face a uma crise causada pela pandemia.
Como o governo não reconhece essa situação, os trabalhadores devem continuar mobilizados por melhores condições de trabalho e contra o desmonte da Caixa 100% pública. Nossa luta é por mais respeito, mais contratações, menos filas e por condições dignas de trabalho. Avaliamos que a ampliação do quadro de empregados, além de aliviar a sobrecarga existente hoje em todas as unidades do país, também implicará atendimento melhor para a população.
Uma coisa tem relação com a outra. A valorização dos empregados passa pela defesa da Caixa 100% pública e voltada para o desenvolvimento econômico e social do país. Queremos denunciar os ataques que o banco vem sofrendo, com o governo buscando fatiar áreas rentáveis e estratégicas como loterias, seguros, cartões e outros segmentos.
É nítida a intenção do governo Bolsonaro de esvaziar a Caixa para depois acabar com ela. Há 160 anos, a Caixa é o braço forte do desenvolvimento deste país, estando sempre ao lado da população nos quesitos mais básicos da vida de um ser humano, como moradia, saúde e educação. A Caixa precisa ser fortalecida e receber investimento para aumentar o seu papel social no Brasil. Defendemos a Caixa 100% pública, por ser patrimônio do Brasil e de cada cidadão brasileiro.
Os empregados do banco e o conjunto da sociedade devem organizar-se para dizer não à privatização da Caixa e ao retrocesso, reafirmando o papel social da empresa em favor do nosso futuro. Resgatar a Caixa 100% pública é tarefa que empresta combate e esperança a 2021. Portanto, o aniversário de 160 anos do banco deve ser marcado com aquilo que os empregados fazem de melhor: mobilização, mobilização e mais mobilização, mirando-se em novos e maiores desafios.
A participação de todos neste movimento é fundamental. Melhor presente nestes 160 anos é a manutenção da Caixa como banco público, forte e que desempenha papel relevante na sociedade brasileira. Todos pela Caixa 100% pública.
Como parte desse processo, uma política de valorização dos empregados é urgente e necessária. O êxito de um banco público, com atuação social e comercial, tem seu alicerce no esforço, na dedicação, na competência e no profissionalismo de sucessivas gerações de empregados e empregadas. Se a Caixa hoje chega a 160 anos de modo sólido e promissor, é porque conta com a colaboração direta de todos os seus trabalhadores.
Nenhuma medida, nenhuma diretriz política ou visão administrativa pode construir um banco 100% público sem a colaboração de seus empregados, do mesmo modo que uma sinfonia não pode ser tocada por um só músico, e tampouco por alguns poucos. Muitos são necessários. A contribuição de cada um é importante. Apenas o coletivo produz o resultado almejado.
Fenae – A soberania nacional está sob ameaça com o governo Bolsonaro. O que a Fenae tem feito em defesa da Caixa, dos direitos dos trabalhadores e de um Brasil soberano e democrático?
Takemoto – A Fenae entende que a luta em defesa da soberania tem relação direta com a construção de um Brasil democrático e pela manutenção do patrimônio público. No caso da Caixa, o que está em jogo é o destino de um banco que atua de maneira primordial como uma das mais importantes ferramentas de políticas públicas de que a sociedade brasileira dispõe.
Nossa mobilização em defesa do setor público, em parceria com movimento sindical e demais associações e entidades, ocorre em diversas frentes – no Congresso, no Judiciário e na mobilização dos empregados do banco e de outras estatais para defender a Caixa 100% pública e os direitos dos trabalhadores. Essa articulação mira-se em um protagonismo social para acionar novos motores contra o desmanche de direitos sociais e contra a entrega do patrimônio público.Será preciso continuar a enfrentar as forças políticas que querem o retrocesso no país. Uma das ideias que podem ser adotadas é a da formação de uma rede nacional em defesa da Caixa pública e social, dos direitos dos trabalhadores e de um Brasil soberano, democrático e solidário. Assim, empregados do banco e entidades representativas se unem para enfrentar situações difíceis, buscar soluções e adotar atitudes ousadas e decisivas.
O momento é oportuno para o país discutir o papel das empresas públicas, fundamentais para a promoção social e para diminuir a desigualdade. É o serviço público que promove o bem-estar social e o desenvolvimento do Estado. Por isso, consideramos fundamental a defesa por uma Caixa forte, pública e social, combinada com a mobilização contra a retirada dos direitos dos trabalhadores. Essas ações simbolizam a defesa de todo o patrimônio do povo brasileiro, das estatais aos recursos naturais.
Em todos os momentos em que a Caixa Econômica esteve sob ataques, a Fenae realizou campanhas para reafirmar o caráter público e social do banco, mobilizando-se ainda por condições dignas de trabalho e contra a retirada de direitos dos empregados. Esse compromisso em defesa do patrimônio público, da soberania nacional e da democracia irá continuar e terá como alicerce a unidade de todos os segmentos dos trabalhadores da Caixa, com o apoio do movimento sindical e de entidades dos movimentos sociais e de moradia.
Como o cenário para 2021 será marcado ainda por muitas dificuldades, temos o propósito de continuar participando de atividades nos estados e municípios contra o retrocesso. Queremos conscientizar a sociedade sobre a importância do setor público para o Brasil.
Constatamos ainda, conforme ficou evidente durante o pagamento do auxílio emergencial e de outros benefícios sociais em tempos de pandemia, que o modelo atual da Caixa não está esgotado e nem se mostra inviável. A instituição financia ações de desenvolvimento urbano, cresceu de maneira progressiva em um período recente e se tornou um dos maiores bancos do país, estando aí algumas das razões para continuar público.